
O Carnaval carioca é uma verdadeira obra de arte a céu aberto. Entre os quesitos que compõem a avaliação das escolas de samba, a fantasia tem papel fundamental na narrativa visual do desfile. Para entender melhor os bastidores dessa avaliação, o SAPUQUEI conversou com Betto Gomes , figurinista, estilista e professor, que estreou como jurado do Carnaval da LIESA este ano. Com uma trajetória marcada pela moda e pelo design, ele nos contou sobre os desafios e a emoção de avaliar um dos maiores espetáculos do planeta.
“Meu olhar é voltado para inovação e sustentabilidade”
Betto Gomes cresceu no Complexo da Maré e, desde pequeno, já brincava de ser jurado nos desfiles que assistia pela TV. Sua paixão pelo Carnaval foi se profissionalizando ao longo dos anos, e sua formação acadêmica reflete esse caminho:
Betto Gomes cresceu no Complexo da Maré e, desde pequeno, já brincava de ser jurado nos desfiles que assistia pela TV. Sua paixão pelo Carnaval foi se profissionalizando ao longo dos anos, e sua formação acadêmica reflete esse caminho: graduação em Moda e Figurino, licenciatura em Artes e pós-graduação em Direção Criativa e Artes Visuais.
“Minha trajetória sempre esteve ligada à moda e ao figurino. Comecei no Carnaval customizando abadás para camarotes e, em 2013, abri minha empresa para atender essa demanda. Ao longo dos anos, fui vestindo celebridades e trabalhando com inovação e sustentabilidade no meu ateliê na Maré. Quando a LIESA abriu inscrições para novos jurados, pensei: ‘chegou minha hora!’”, conta Betto.
A experiência como estilista e figurinista trouxe um olhar técnico para a avaliação. “Todo o meu percurso acadêmico foi consolidado na história da indumentária, o que me possibilita um amplo conhecimento para analisar e julgar as propostas das agremiações em suas fantasias.”
“Minha trajetória sempre esteve ligada à moda e ao figurino. Comecei no Carnaval customizando abadás para camarotes e, em 2013, abri minha empresa para atender essa demanda. Ao longo dos anos, fui vestindo celebridades e trabalhando com inovação e sustentabilidade no meu ateliê na Maré. Quando a LIESA abriu inscrições para novos jurados, pensei: ‘chegou minha hora!’”, conta Betto.
A experiência como estilista e figurinista trouxe um olhar técnico para a avaliação. “Todo o meu percurso acadêmico foi consolidado na história da indumentária, o que me possibilita um amplo conhecimento para analisar e julgar as propostas das agremiações em suas fantasias.”
Os desafios de julgar o quesito Fantasia
Estrear como jurado do quesito Fantasia em um desfile do Grupo Especial não é tarefa fácil. Cada escola leva meses – às vezes anos – desenvolvendo suas roupas, que precisam contar a história do enredo com riqueza de detalhes e acabamento impecável. Para garantir um julgamento justo, Betto explica que há diretrizes bem estabelecidas.
“O julgamento segue critérios específicos, como concepção e realização. Antes do Carnaval, participamos de reuniões onde recebemos o Manual do Julgador, um documento criado em conjunto com todas as agremiações para orientar nossa avaliação”, explica.
Mesmo com um guia técnico, a pressão na hora da avaliação é enorme. “Tirar pontos de uma escola é muito difícil. Sei que há um ano inteiro de trabalho de uma comunidade ali. Por isso, procuro manter um olhar frio e técnico, sem me deixar levar por torcida, emoção ou histórico da escola.”
Sobre os desafios do cargo, Betto destaca um fator que nem sempre é levado em conta: a reação do público. “Além da responsabilidade de avaliar as escolas mais grandiosas do Carnaval, temos que lidar com represálias nas redes sociais. A paixão do torcedor é gigante, e quando há perda de pontos, muitas vezes vêm as críticas.”
Os bastidores da avaliação: como funciona o julgamento?
A rotina de um jurado durante os dias de desfile é intensa. Para garantir a segurança e a imparcialidade, há um esquema logístico bem organizado.
“Nós ficamos hospedados em um hotel próximo à Avenida e somos levados ao Sambódromo em ônibus especiais. Os jurados são divididos em quatro módulos, espalhados pela Sapucaí, e cada um julga seu quesito individualmente”, detalha.
Ao longo do desfile, as anotações são feitas em um caderno de rascunho, onde cada detalhe é registrado. Ao final da noite, as notas oficiais são entregues à organização.
E quanto ao contato com as escolas? Nenhum! “Nossa única referência é o livro abre-alas, que este ano veio em formato digital, por meio de um tablet. Nele, temos acesso aos croquis e às explicações sobre as fantasias”, conta Betto.
A evolução do Carnaval e o impacto da tecnologia
Com uma carreira voltada à inovação e à sustentabilidade, Betto tem um olhar atento às mudanças no Carnaval. “O que mais me impressiona nos últimos anos é o uso da tecnologia nos desfiles, especialmente nas comissões de frente. A fusão entre figurino e efeitos tecnológicos elevou o espetáculo a outro nível”, comenta.
Sobre a transparência do julgamento, ele acredita que a LIESA tem buscado melhorias constantes. “Sempre há espaço para evolução, mas o trabalho da equipe é muito sério. Eles estão sempre presentes e atentos a melhorias.”
O desfile mais marcante e a realização de um sonho.
Mesmo estreante como jurado, Betto já tem um momento inesquecível na Sapucaí: a “paradona” da Beija-Flor.
“Foi impactante. Algo que certamente ficará marcado na história do Carnaval”, afirma.
Para aqueles que sonham em se tornar jurados, o conselho de Betto é claro: “Além de conhecimento técnico, é preciso preparo físico para aguentar a maratona dos desfiles e sangue frio para lidar com as críticas nas redes sociais.”
Finalizando a entrevista, Betto se emociona ao falar sobre a realização desse sonho. “Sou oriundo do Complexo da Maré, estudei em escola pública e fui bolsista na faculdade. Nunca foi fácil, mas estar aqui hoje é uma conquista pessoal e coletiva. Quero mostrar que todos nós podemos alcançar nossos sonhos.”
E Betto conseguiu. O menino que um dia brincava de ser jurado na infância agora faz parte do seleto grupo que define o Carnaval carioca.
Redação e Foto : EQUIPE SAPUQUEI
