
Por SAPUQUEI
No dia em que o Brasil se despede de Preta Gil, o país também dá adeus a um dos maiores símbolos de coragem, irreverência e representatividade da nossa cultura. A cantora, atriz, empresária e ativista faleceu aos 50 anos, deixando um legado que vai muito além da música. Preta foi resistência, afeto e arte em estado bruto — um verdadeiro movimento que rompeu padrões e deu voz aos silenciados.
Da linhagem Gil: música no sangue e no coração
Filha de Gilberto Gil, um dos maiores nomes da MPB e ex-Ministro da Cultura, Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu no dia 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro. Criada em um ambiente onde arte e política sempre caminharam juntas, ela cresceu entre os bastidores e os palcos. Desde cedo, traçou sua própria trilha, marcada por autenticidade, ousadia e pluralidade sonora. Sem se prender a rótulos, misturou pop, samba, funk, axé e MPB com a sua identidade poderosa.

A estreia: “Prêt-à-Porter” e a quebra de padrões
Em 2003, Preta lançou seu álbum de estreia, Prêt-à-Porter, que causou furor pelo encarte em que aparecia nua. Mais que marketing, o gesto foi um manifesto: contra a gordofobia, contra os estereótipos de beleza e em defesa da liberdade dos corpos. A crítica foi dura, mas Preta resistiu. Surgia ali uma das vozes mais combativas e libertadoras da cena artística brasileira.
Carnaval, Mangueira e o trono verde e rosa
Apaixonada por Carnaval, Preta Gil fez história ao ocupar o posto de Rainha de Bateria da Estação Primeira de Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do país. Sua presença na “Verde e Rosa” foi um marco: mulher preta, fora dos padrões estéticos convencionais impostos pela mídia, empunhando o trono com majestade, carisma e samba no pé. Posteriormente, ainda fundaria o Bloco da Preta, que se tornou um dos maiores do Carnaval de rua do Rio, arrastando multidões com sua energia contagiante e sua bandeira de inclusão e liberdade.

Militância e representatividade
Mulher negra, gorda e bissexual, Preta nunca se calou. Pelo contrário: amplificou as vozes das minorias. Foi uma ativista incansável contra o racismo, a homofobia, o machismo e todas as formas de opressão. Estava nos palcos, nas redes, nas ruas. Fez da sua vida um espaço público de debate, afeto e resistência. Preta Gil não representava apenas a si mesma — ela representava muitas.
A luta contra o câncer: coragem em tempo real
Em 2023, Preta Gil foi diagnosticada com um câncer colorretal. Ao invés de se recolher, decidiu compartilhar o processo com o público, usando as redes sociais para tratar de temas como saúde, cuidados paliativos, acolhimento e empatia. Enfrentou o tratamento com serenidade, fé e o mesmo brilho que sempre a acompanhou. Sua vulnerabilidade virou força coletiva, tocando o coração de milhões de pessoas.

Despedida e eternidade
A morte de Preta Gil encerra um ciclo, mas não silencia sua voz. Ela se despede como viveu: em alto e bom som. Sua discografia — repleta de parcerias, hits e experimentações — permanece como trilha sonora da liberdade. Mais do que isso, deixa ensinamentos profundos sobre o poder da aceitação, da autenticidade e do amor-próprio.
Sua vida foi um manifesto. Sua obra, uma festa. Sua morte, um lamento nacional. Mas seu nome seguirá entoado nos batuques, nas rodas, nas multidões, nos amores.
Preta é eterna
A arte de Preta Gil permanece viva nos sambas da Mangueira, no grito de “tá tudo certo” ecoado pelos foliões do seu bloco, e em cada pessoa que ousa ser quem é. Preta não foi coadjuvante de ninguém. Foi protagonista da sua história. E que história!
🖤 Preta Gil, 1974 – 2025.
Rainha da alegria, da coragem e da representatividade.
Um furacão de afeto, som e revolução.
Redação SAPUQUEI
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