Sustentabilidade no Samba: A Trajetória de Diego Carbonell, que está Transformando o Carnaval

Sustentabilidade no Samba: A Trajetória de Diego Carbonell, que está Transformando o Carnaval

A sustentabilidade é um tema cada vez mais presente em todos os setores, e até o carnaval, uma das maiores expressões culturais do Brasil, tem se adaptado a essa realidade. No mundo atual, pensar em formas de reduzir o impacto ambiental, promover responsabilidade social e aplicar práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance) é essencial, inclusive nas grandes festas populares. O carnaval, com sua grandiosidade e influência, se tornou um espaço onde a sustentabilidade pode brilhar e fazer a diferença.

Agora, temos uma entrevista com um convidado muito especial. Ele é uma referência em sustentabilidade e ESG, com anos de experiência em grandes projetos e empresas multinacionais. Além disso, ele leva essa expertise para o mundo do carnaval, onde atua como diretor de sustentabilidade na Liga RJ e no Império Serrano, unindo sua paixão pela festa com sua missão de promover impacto socioambiental. Confira a apresentação de Diego Carbonell e a entrevista exclusiva que fizemos para conhecer mais sobre essa trajetória fascinante e os desafios que ele enfrenta.

“Sou um Administrador de formação, com pós-graduação na área de controladoria,
auditoria e compliance e MBA em Facility Management. Já atuo na área de
sustentabilidade corporativa e ESG há mais de 4 anos, sempre em empresas
multinacionais onde estive como principal responsável pela estratégia e gestão
dos projetos relacionados aos temas. Para além disso, estou Coordenador da
Comissão Especial de Sustentabilidade do Conselho Regional de Administração
do Rio de Janeiro (CRA-RJ), integro a Comissão de Sustentabilidade Ambiental do
Conselho Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro (CRCRJ) e faço parte da
Câmara Setorial de Desenvolvimento Sustentável do Fórum da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Já atuei como consultor em
grandes projetos apoiados por empresas como SICOOB, Vale do Rio Doce,
Nubank e Ernst & Young e lecionei nas temáticas de sustentabilidade e ESG em
pós-graduações e MBAs no Rio de Janeiro (Universidade Cândido Mendes), São
Paulo (Faculdade Anhanguera) e Mato Grosso (FATEC SENAI-MT).


“Minha relação com carnaval se dá desde que eu me entendo por gente. Sou
nascido em Ramos, então tenho muitas histórias na quadra da Imperatriz
Leopoldinense, minha escola de coração. Acompanhava meu pai nos ensaios por
volta de 1998, pois ele desfilava na bateria tocando tamborim e eu também já
estava com o meu instrumento arranhando as primeiras batidas. Em 2008 fiz
minha estreia oficialmente na bateria da minha escola tocando tamborim, como
meu pai. Pouco tempo depois, em 2011, me tornei diretor de bateria da escola.
Dali em diante, fui para o mundo. Desfilei em dezenas de escolas como União da
Ilha, São Clemente, Viradouro, Grande Rio, tocando os mais diversos instrumentos
– com preferência sempre para tamborim e surdo de 3ª, confesso (risos). Entre
idas e vindas, encerrei esse ciclo em baterias no último ano, quando estive mestre
da Botafogo Samba Clube, já dividindo minhas atenções com o projeto de
sustentabilidade da Superliga. E digo que fechei com “chave de ouro”, já que
conseguimos o acesso justamente no último quesito, que era bateria. Agora o foco
é todo em impulsionar as temáticas socioambientais e o ESG no carnaval.”

Entrevista na íntegra:

  1. De onde surgiu a ideia de trazer sustentabilidade e ESG, que são
    linguagens de mercado, para o carnaval?

    Desde que comecei a trabalhar com sustentabilidade, por ter sido nascido e
    criado no carnaval, percebia as conexões que a festa tem com as questões
    socioambientais. Ao mesmo tempo, isso me despertou para a potencialidade do
    carnaval e como ele poderia, a sua maneira, organicamente, naturalmente, ser um
    potencializador da sustentabilidade para a população e para as comunidades, que
    são as mais impactadas em termos ambientais e socioeconômicos nos dias de
    hoje, mas são as que menos tem acesso a essas informações para debaterem e
    reivindicarem melhorias.
    Além disso, também identificava que o ESG (sigla para environmental, social and
    governance – ambiental, social e governança) poderia ser uma ferramenta para
    trazer mais credibilidade para o carnaval e assim aproximar empresas através da
    transparência que, no geral, é o que elas relatam faltar para fazerem seus
    investimentos.
    Sendo assim, decidi agregar o conhecimento e vivência no tema que já carrego do
    mundo corporativo e conectar tudo isso com o carnaval. Encontrei a oportunidade
    através de uma mente aberta a essa adesão, que foi o Pedro Silva (a época
    Presidente da Superliga, hoje Vice-Presidente da LIGA RJ) e daí em diante tudo caminhou exatamente ou talvez melhor do que eu esperava que acontecesse.
  2. Quais foram os principais desafios iniciais?
    Por ser um tema novo, ainda afastado do grande público, acho que o grande
    desafio foi fazer as pessoas entenderem a importância de trazermos esse tema
    para o carnaval. Mostrar que isso não era uma forma de “mudar o que sempre foi
    assim”, mas sim de melhorar a forma com que é feito, trazendo benefícios para o evento e para as pessoas envolvidas. Até que as ações acontecessem, a
    visibilidade das mídias surgisse, as parcerias se firmassem, foram muitas e muitas conversas para que eu não fosse considerado só um “capitão planeta”, querendo “salvar o mundo”, mas sim alguém que tinha como objetivo levar conhecimento para as pessoas e trazer credibilidade para os órgãos públicos e empresas privadas investirem na nossa festa.
  3. Quais foram as principais entregas nesse primeiro ano? Destaca alguma?
    É difícil destacar uma só, porque muito do que fizemos foi pioneiro. No Império
    Serrano, fomos a primeira escola a compensar as emissões de gases de efeito
    estufa do ensaio técnico, através de um inventário de carbono que quantificou o
    impacto e, através de créditos de carbonos adquiridos, compensou isso em
    projetos de preservação e reflorestamento na região amazônica. Fomos também a primeira agremiação a compensar a dupla ensaio técnico e desfile. Na Superliga também fomos pioneiros em diversos aspectos: Compensamos a emissão de
    todos os dias de desfile; proporcionamos, pela primeira vez na Intendente
    Magalhães, uma área acessível; assinamos o protocolo “Ouviu um não? Respeite a Decisão”, por um carnaval mais seguro para as mulheres e treinamos membros da nossa equipe para agir em possíveis situações de importunação e assédio sexual, obtendo assim o “Selo Mulher + Segura” pela primeira vez em uma liga carnavalesca. Realizamos uma campanha por um carnaval sem preconceito, com foco em um ambiente seguro para a população LGBTQIAPN+, entregamos, também pela primeira vez, um relatório de sustentabilidade completo, contendo
    todos os dados das ações; e como destaque, realizamos um movimento
    antirracismo, que logo chamou a atenção do iFood. Assim, em parceria com eles,
    realizamos a campanha #BoraDescer, pela valorização e respeito aos entregadores. Foram mais de 85 mil itens de conscientização distribuídos nos
    cinco dias de desfile, o que dá uma mostra do quanto de impacto alcançamos.
  4. Como recebeu o convite para a LIGA RJ? E qual tem sido o principal desafio?
    Recebi com muita alegria o convite do Presidente Hugo Júnior para assumir o
    cargo na LIG RJ. Acho que foi uma resposta natural e positiva com relação ao bom trabalho realizado na Superliga, que é um carnaval que sempre terá o meu carinho. Acredito que o principal desafio agora é adequar as ações às proporções da Sapucaí. Na Intendente tínhamos o público muito mais próximo, uma troca muito mais direta. Já na Sapucaí, até pelo distanciamento das arquibancadas, a abordagem precisa ser diferente, repensada. Sem contar no volume de público, que praticamente dobra. Mas é o desafio que todo mundo quer, não é mesmo? (risos). Tenho certeza de que o resultado será muito positivo e que o público sairá de lá conhecendo mais sobre importantes temas nas temáticas socioambientais.
  5. Alguma novidade que já possa ser revelada?
    Não quero entregar o ouro todo (risos). Mas vou dar dois “spoilers”: um deles é
    que a LIGA RJ terá como um dos pilares de governança os “compromissos”. Ou
    seja, estaremos alinhados com uma grande instituição, referência de mercado, o que nos colocará em linha com as principais empresas do mundo corporativo. É uma mostra que queremos dar para reforçar que o que temos feito não é “meramente proforma”, e sim tem um objetivo claro e real de evoluir nessas
    práticas. O outro spoiler é que tudo que fizermos será materializado em um documento baseado em um dos principais modelos de mercado na elaboração de relatórios. É mais uma forma de darmos transparência, demonstrar credibilidade e conectarmos com as empresas e órgãos públicos. Além de, claro, municiarmos nossas afiliadas com este documento para possíveis captações. Todo restante, só estando lá nos dias 28 de fevereiro e 01 de março para saber (risos).
  6. Como enxerga os próximos passos do tema no carnaval?
    Acredito plenamente que é uma temática que não terá retrocesso, não só no
    carnaval, como em todos os âmbitos da nossa sociedade. Até por isso, acho que
    teremos cada vez mais ligas, escolas de samba e demais instituições, públicas e
    privadas, buscando alinhamento com as melhores práticas de sustentabilidade.
    Veremos o governo, em todas as esferas, avançando no tema e cobrando que as
    instituições também se posicionem nesse sentido; veremos as ligas tendo que
    melhorar seus processos, não só no desfile, mas também em seus barracões,
    ateliês e em suas próprias quadras; veremos até mesmo os camarotes tendo que adequar suas práticas aos critérios de sustentabilidade, e por aí vai.
    Não muito distante, teremos muitas Diretorias de Sustentabilidade espalhadas, não só no carnaval do Rio de Janeiro, mas também no Brasil e no exterior. Não é um “chute”, e sim uma certeza, considerando tudo que temos vivido enquanto sociedade.

Encerramos aqui nossa conversa com Diego Carbonell, uma verdadeira inspiração quando o assunto é unir sustentabilidade e tradição cultural. Sua atuação tanto no mundo corporativo quanto no carnaval mostra que é possível promover impacto socioambiental positivo em diferentes esferas. Agradecemos por compartilhar suas experiências e visão de futuro, que certamente continuarão a contribuir para um carnaval mais consciente e sustentável. Fiquem atentos às próximas entrevistas aqui no Sapuquei e até a próxima!

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *